Empresas de Segurança e Vigilância n?o conseguem fazer sua própria segurança e bandidos escolhem armas de cano curto, usado por vigilantes, para realizarem “assaltos no varejo”.
Em dois anos, número de desvios equivale ao desfalque de uma década do arsenal das polícias
Por Bruna Fantti – O DIA – Publicado ás 03h00 de 23/09/2018 – Atualizado ?s 11h22 de 23/09/2018
Rio – Em dois anos, o Estado do Rio foi o que, proporcionalmente, teve o maior número de armas desviadas de empresas de segurança no Sudeste. é o que aponta levantamento feito pelo DIA, com dados obtidos, junto à Polícia Federal, via Lei de Acesso à Informação.
No período de 2016 e 2017 houve 1.084 armas roubadas, extraviadas ou furtadas das empresas no estado, de um total de 23.176, ou seja, 4,6%.
O número de desvio de armas nas empresas de segurança do Rio nesses dois anos é semelhante ao armamento perdido em uma década pelas polícias civil e militar do estado, de acordo com a CPI das Armas da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Isso porque, em 2016, a Alerj concluiu que entre 2005 e 2015 foram cerca de 1.600 armas das for?as policiais extraviadas ou roubadas.
Apesar de S?o Paulo possuir nas empresas quase três vezes mais revólveres, pistolas e espingardas do que o Rio, apresentou um desvio proporcional inferior em relação ao total do armamento: foram perdidas para o crime 2.134 armas de um arsenal de 68.822 (3,10%).
No País, de acordo com a Polícia Federal, há cerca de 5,5 milhões de armas autorizadas para porte nas empresas. Desse total, 4,6 milhões s?o revólveres Ponto 38. Por lei, as empresas responsáveis pela segurança de patrimônio, transporte de valores e de cargas só podem utilizar armas como revólveres, pistolas Ponto 380 e espingardas.
De acordo com o especialista em armas Vinícius Cavalcante, a restrição do calibre facilita os roubos. “A criminalidade possui armamento muito superior. Como um vigilante pode se defender portando um revólver frente a um fuzil? é por isso que essas armas caem nas m?os de bandidos e os desvios são alarmantes, superiores aos ocorridos nas forças policiais”, disse.
Ainda segundo Cavalcante, um exemplo de local que possui segurança particular armada, mas é uma exceção à lei já que pode utilizar armas de calibre longo como fuzis, é a Casa da Moeda, que nunca registrou assalto.
De acordo com o especialista, as armas de cano curto roubadas influenciam diretamente no aumento da criminalidade. “Elas são utilizadas no chamado varejo, ou seja, para realizar assaltos em ônibus, na rua. Traficantes chegam a alugar revólveres e pistolas para a prática de crimes. A gente também tem a percepção de que um grande n?mero de latrocínios (roubo seguido de morte) é resultante do uso dessas armas”, afirmou.

Segundo dados do Atlas da Violência 2018, desenvolvido pelo F?rum de Segurança Pública (FSP) e pelo Ipea, sete em cada dez assassinatos no Brasil país que registrou 64 mil mortes desse tipo em 2017 s?o cometidos com armas de fogo.